De empoderar para co-erguer
Há poucos dias atrás falava com um grupo de inovadores sociais sobre a realização de projetos em África e durante as nossas trocas surgiu a palavra Empowerment,(Empoderar). Dizia-se: “precisamos de empoderar as pessoas!”
De imediato senti medo e tristeza. O medo de começar um projeto novo repetindo os mesmos passos que conduzem a uma visão de escassez. Triste porque percebo a boa intenção de ajudar, de contribuir mas ainda feita com as lentes de um mundo patriarcal, separado e antropocêntrico. Empoderar remete-me à ideia de algo sem vida, sem poder e que necessita de uma força externa para acordar e agir.
Observo que essa tem sido a narrativa das últimas décadas, na realização de alguns projetos sociais. Onde é pedido para definir a necessidade ou o problema, mas não se pede para falar no potencial ou sobre o que é forte e o que funciona bem.
O padrão repete-se em alguns projetos para o desenvolvimento: o clássico fazer para em vez de fazer com ou a partir do que está vivo na comunidade. Acredito que mesmo nas situações mais desafiantes, a qualidade da nossa presença como empreendedores permite-nos ver a essência, o oásis e a abundância das pessoas e do local.
Talvez uma definição alternativa, para mim, seja co-arising (co-emergir, co-erguer); quando consigo com a minha qualidade de presença e escuta, ver a essência e o potencial da pessoa que está à minha frente ou de um local. Em vez do julgamento e das soluções imediatas. Parar para entender e conhecer dá-nos possibilidades além do óbvio.
“Os tempos são urgentes, precisamos de abrandar”
Provérbio Yoruba
Quando partilho com a outra pessoa a essência e o potencial que vejo nela, desperta-se nela um novo entendimento de si.É um diálogo em que estamos em relação.Consigo ver a especificidade da pessoa mas também a sua totalidade, a humanidade que também é minha, além das funções e do status social e económico.
O momento de florescimento do outro é também o meu momento de florescimento. Na verdade, não estou fora da natureza, da comunidade ou do grupo de pessoas a quem quero servir.Sou parte desse sistema. Estou ligado, interdependente. E cada impulso de vitalidade ou sinal de fraqueza tem um impacto em mim. Eu não me elevo sem que todos nos elevemos.
Esta percepção transforma-me! Conecta-me! É essa conexão que me torna mais criativo, capaz de trazer vitalidade para todo o sistema do qual faço parte.
Regeneração pode ser sobre co-erguer: que lugares e comunidades tornamos melhores partindo da sua essência, do que a faz forte e vibrante?
Em agosto de 2021 estive em Moçambique a convite da Girl Move para facilitar um programa de transformação comunitária, no contexto da pandemia e da crise dos deslocados internos de Cabo Delgado. Esta reflexão vem da experiência de expansão que vivi com a comunidade local.